Engenheiros e arquitetos conhecem bem o termo recalque nas fundações. Mas, o que causa esse fenômeno? Na arquitetura e na engenharia civil, a expressão é utilizada para designar o rebaixamento sofrido por uma edificação devido ao processo de consolidação do solo sobre sua fundação, causada pelo peso da estrutura.
Apesar de haver recalque nas fundações de praticamente todas as construções, ele só virá a afetar a estrutura do prédio quando a intensidade do afundamento for maior que o limite previsto no projeto estrutural. Há dois tipos de recalques: recalque uniforme (ou absoluto) e o recalque diferencial, que pode acontecer com ou sem distorção angular.
Recalque uniforme
O uniforme acontece quando todos os pontos da fundação apresentam o mesmo grau de recalque e toda a obra desce como um corpo rígido, mantendo a estabilidade horizontal e vertical. A estrutura não sofre nenhum dano, mas podem ocorrer problemas nas ligações com a via pública (entrada de água, esgoto, cabos enterrados, acesso de veículos, entre outros). Um exemplo desse tipo de recalque é a Catedral Metropolitana do México, onde ocorre todos os anos o processo de consolidação do solo em, ao menos, 7 cm de maneira uniforme.
Curiosidade: A Cidade do México sofre um rebaixamento do solo devido à excessiva extração de água dos aquíferos por conta da superpopulação. Por isso, no decorrer do último século, a Catedral foi sofrendo danos estruturais que chegaram a inclinar suas torres. Entre 1993 e 1998, o prédio passou por uma grande reforma estrutural visando estabelecer uma base sólida para igreja. Esses esforços não interromperam o afundamento do complexo, mas corrigiram a inclinação das torres e garantiram que a Catedral passe a afundar uniformemente.
Recalque diferencial
Por outro lado, o recalque denominado diferencial tem como principal característica a diferença de nível. Esse fenômeno ocorre quando uma parte da estrutura fica mais rebaixada que a outra, podendo haver ou não uma distorção angular. Portanto, essa condição resulta em esforços estruturais não previstos, o que pode culminar na ruína da obra, em casos extremos. Vale lembrar que nem todas as rachaduras e fissuras provêm de recalque.
O recalque diferencial pode ocorrer de duas maneiras: como corpo rígido ou com distorção angular.
Recalque diferencial em corpo rígido
O primeiro caso acontece quando os rebaixamentos possuem um valor constante de distorção angular, o que significa dizer que a estrutura sofre rotação como se fosse um bloco único. São características de estruturas muito rígidas. Dependendo da magnitude dos recalques, a estrutura pode não sofrer dano, mas o aspecto estético fica comprometido e é possível que a inclinação danifique as tubulações, prumo das paredes, elevadores, entre outros.
Recalque diferencial com distorção angular
Para compreender a segunda situação, precisamos primeiramente conhecer a definição da distorção. Ela é uma medida angular (θ) que relaciona o rebaixamento vertical (ρ) ocorrido e a distância (L) entre os elementos de fundação, como ilustrado no esquema a seguir.
Sendo assim, podemos definir o recalque diferencial com distorção angular como sendo a condição em que a obra afunda de forma desigual, o que implica dizer que as medidas angulares do recalque não são as mesmas em diferentes pontos da estrutura, o que resulta em sua deformação. Confira na imagem abaixo.
uniformidade e distorção.
Atenção especial ao solo
Em linhas gerais, em todo projeto de edificação, para que se possa evitar falhas e danos como os recalque nas fundações, o solo merece uma atenção especial, pois ele é quem absorverá as cargas da estrutura.
Para entender mais, confira nossos artigos sobre os tipos de solo, bem como acerca da preparação do solo numa obra.
Embora existam de recalques admissíveis – que devem respeitar os limites estabelecidos pela NBR 6122 -, um erro de projeto em relação ao solo pode causar recalques exagerados que podem culminar no comprometimento da edificação, ou pior, em sua ruína. Por isso, um estudo detalhado do solo antes da construção é imprescindível para evitar tais prejuízos. Afinal, esse é o princípio de todo planejamento.
Leia Mais
- http://civil.uefs.br/DOCUMENTOS/RANNIERE%20MOREIRA%20DE%20CASTRO.pdf
- http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17430/material/PUC-FUND-19-Recalques.pdf
- https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/cidade-do-mexico-afunda-sete-centimetros-por-ano-6715427
- https://noticias.r7.com/internacional/cidade-do-mexico-afunda-de-8-a-12-centimetros-por-ano-30082018
- https://www.bbc.com/portuguese/geral-45168320
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